Um cântico de Natal – Charles Dickens

By | June 27, 2022

… Scrooge! Um velho pecador, avarento e invejoso! Duro e cortante como uma pedra: Fechado, retraido e solitário como uma ostra. O seu frio congelava-lhe as feições envelhecidas, murchava-lhe o nariz pontudo, enrugava-lhe o rosto, segurava-lhe o passo, avermelhava-lhe os olhos, tornava-lhe azuis os lábios delgados e soava na sua voz áspera. A baixa temperatura que lhe era inerente acompanhava-o por toda a parte, gelava o seu escritório nos dias de calor e não o aquecia um só grau no Natal. Certo dia – era véspera do Natal – o velho Scrooge trabalhava no seu escritório. Para manter sob vigilância o empregado, que, num lúgubre cubículo, copiava cartas, conservava a porta aberta.

Feliz Natal, tio! Deus o salve — disse subitamente uma voz amiga, a voz do sobrinho de Scrooge.

Bobagens! Feliz Natal! Que razões tens para te sentires feliz? — És bastante pobre.

— Então! — respondeu o sobrinho alegremente. — E que razão tem o tio para estar aborrecido? É bastante rico.

— Como não vou estar — retorquiu Scrooge — se vivo num mundo de doidos? Feliz Natal! Se pudesse fazer a minha vontade — acrescentou com indignação — todos os idiotas que andam por aí com o Feliz Natal na boca seriam cozidos com o seu próprio pudim. A ti, isso tem-te beneficiado muito, não há duvida…

— Há muitas coisas de que posso ter extraído o bem sem delas tirar lucros — respondeu o sobrinho. — E o Natal é uma delas. Sempre pensei no tempo do Natal, quando ele vem – ao lado da veneração devida ao seu nome e origem sagrados, se é que alguma coisa do que lhe pertence pode ser separada dessa condição – como uma boa época do ano: Uma época amável, indulgente, caridosa, agradável; a única época que conheço no longo calendário do ano em que homens e mulheres, por acordo unânime, abrem livremente seus corações e pensam nas pessoas de classe inferior à sua como se fossem realmente companheiros de jornada para a sepultura e não membros de outra raça de criaturas viajando com destino diferente. Creio que o Natal me tem feito bem e que continuará a fazê-lo. Deus o abençoe!

— Sem dúvida és um bom orador. Admira-me que não vás para o Parlamento.

— Não se zangue, tio. Ouça! Venha jantar conosco amanhã.

— Boa tarde — disse Scrooge.

Ai, ai… O sobrinho saiu dali sem dizer, apesar de tudo, uma só palavra irritada. Do lado de fora da porta, parou um momento para trocar as saudações da época com o empregado, Bob Cratchit.

— Lá está outro! — resmungou Scrooge, que o ouviu. — O meu empregado, com quinze xelins por semana e mulher e filhos, falando de Natal Feliz! Esta gente ainda acaba por me deixar doido.

Scrooge retomou o trabalho com melhor opinião a seu respeito. Nessa tarde, mandou embora dois cavalheiros que solicitavam auxílios de Natal para os pobres. Se havia asilos, que mais pretendiam os pobres? Escorraçou, também, um garoto que tentou cantar uma balada de Natal debaixo da janela. Quando chegou a hora de fechar, Scrooge, virou-se para o empregado, que o olhava com expectativa e disse-lhe em tom ríspido:

— O Natal é uma desculpa fraca para se meter as mãos no bolso de um homem todos os 25 de Dezembro. Mas suponho que você quer ter o dia livre. Não se esqueça de entrar mais cedo na manhã seguinte.

Scrooge jantou melancolicamente no seu melancolico restaurante habitual; e foi para casa deitar-se. Vivia nuns quartos que antes haviam pertencido ao seu sócio, Jacob Marley. Marley estava morto e bem morto. Tendo metido a chave na fechadura da porta, viu na aldraba não uma aldraba, mas o rosto de Marley. Dizer que não se assustou seria mentir. Mas fez a chave girar rapidamente na fechadura, entrou e acendeu a vela. Antes de fechar a porta, deu, no entanto, uma volta pelos aposentos, para verificar se tudo se encontrava em ordem. Completamente sossegado a esse respeito, fechou a porta por dentro, enfiou o roupão e os chinelos e sentou-se em frente do fogão. O fogão era velho e tinha à volta uns curiosos azulejos holandeses com cenas das Sagradas Escrituras. Ora, o rosto de Marley, morto há sete anos, estava em cada um deles!

— Bobagem! — exclamou Scrooge, atravessando o aposento. Uma campainha já fora de uso, que estava pendurada na sala, começou a balançar e tilintar. O fato poderia ter durado meio minuto ou um minuto mas pareceu-lhe que se demorara por uma hora. Em seguida soou um ruído estridente, a grande profundidade, como se alguém estivesse arrastando uma pesada corrente.

— Tudo bobagens — balbuciou Scrooge. — Não acredito nessas coisas.

… Mas mudou de cor quando ele atravessou a pesada porta e entrou no aposento diante dos seus olhos desvairados. O fantasma de Marley! Marley com o cabelo preso atrás em um rabicho, o colete, as calças muito justas e as botas do costume. A corrente que arrastava estava presa à sua cintura e era formada por cofres, chaves, cadeados, livros de contas, escrituras e pesados bolsos de aço. O seu corpo era tão transparente que Scrooge, olhando através do colete, via nitidamente os botões da parte posterior através do casaco.

— Que vem a ser isto? — interrogou Scrooge, cáustico, gelado como sempre.

— Que quereis de mim?

— Não acreditas em mim? — perguntou, por sua vez, o Fantasma.

— Não — respondeu Scrooge.

— Porque duvidas dos teus sentidos?

— Porque — disse Scrooge — qualquer coisa pode molestá-los. Uma ligeira indisposição do estômago é o bastante para os perturbar. Tudo podes ser um pedaço de carne mal digerida, um pouco de mostarda, uma migalha de queijo, uma batata mal cozida. Quem quer que sejas, tens mais jeito de vir da cozinha do que do túmulo. O espírito deu um grito medonho e arrastou a sua corrente com um ruido tão lúgubre e assustador, que Scrooge caiu de joelhos.

— Piedade — implorou — porque me atormentas, pavorosa aparição?

— Vim aqui esta noite para te prevenir de que ainda podes escapar ao meu triste destino. Uma esperança e uma possibilidade que eu te alcancei, Ebenezer. Serás visitado por três espíritos. Sem eles não esperes fugir ao caminho que eu trilho. E o fantasma saiu, vaga forma flutuante, através da janela fechada. Scrooge ainda tentou dizer “bobagens”, mas parou a tempo, na primeira silaba. E como estava necessitando de repouso, foi, logo, para a cama, onde se meteu sem se despir, e adormeceu profundamente. Quando acordou, viu na sua presença um estranho visitante. Parecia um velho, visto através de algum meio sobrenatural.

— Quem és tu ou, antes, o que és? — perguntou Scrooge.

— Sou o Fantasma do Natal Passado. Do teu passado! Levanta-te e vem comigo!

Pronunciadas estas palavras, passaram ambos através da parede e os anos da vida de Scrooge principiaram a correr em sentido inverso até chegarem às cenas da sua infância e mocidade, passadas noutras vésperas de Natal. O fantasma parou então, à porta de certo armazém.

— Fui entregador aqui — confessou Scrooge. E ao ver um ancião alquebrado, disse:

— Olha! É o velho Fezziwig!

O velho Fezziwig pousou a caneta e olhou para o relógio que marcava sete horas. Esfregou as mãos, ajustou o colete, sorriu com benevolência e exclamou:

— Ebenezer, Dick! Venham cá!

A antiga forma de Scrooge entrou com vivacidade, logo seguida pela do outro, entregador.

— Rapazes — disse Fezziwig — por hoje acabou-se o trabalho. É véspera de Natal! Vamos arrumar a casa e arranjar bastante espaço.

A ordem cumpriu-se num minuto. Todos os móveis foram afastados; o chão varrido e lavado, espevitaram-se as velas e atestou-se a chaminé de carvão. Veio, depois, um rabequista que tocava por cinqüenta. Vieram a Srª. Fezziwig, e as três filhas do casal. Vieram os rapazes cujos corações elas tinham cativado. Vieram todos os homens e mulheres que trabalhavam na casa. E principiaram todos a dançar, vinte pares ao mesmo tempo, dando voltas e reviravoltas, de mãos dadas. Fezziwig, batendo palmas, para interromper a dança, exclamou, a dada altura: “Muito bem”. E o rabequista mergulhou o rosto afogueado numa caneca de cerveja. Depois, houve mais danças, jogos de prendas e outras danças e houve ainda um grande assado frio, outro cozido, empadas e cerveja à farta. Durante todo o tempo, Scrooge comportou-se como um homem que perdeu a razão. Estava, de alma e de coração em cena, com o seu antigo eu. E não se conteve dizendo ao Fantasma:

— Gostaria de dizer neste momento uma ou duas palavras ao meu empregado. Mas continuava a percorrer os anos do passado de Scrooge até que este gritou:

— Espírito, tira-me daqui!

Tinha a impressão de estar sendo vencido por irresistível sonolência no seu próprio quarto. Mal teve tempo de cair na cama, antes de mergulhar num sono profundo. Ao acordar, com um ronco fortíssimo, encontrou-se no centro de um clarão avermelhado que vinha do quarto do lado. Levantou-se e foi para a porta. Estava na sua própria sala. Mas ela estava surpreendentemente transformada. As paredes e o teto estavam decorados com verdura, azevinho, visco e hera. Um fogo forte crepitava na lareira. Amontoados no chão, formando uma espécie de trono, havia perus, gansos, caça, paios, grandes peças de carne assada, leitões, salsichas, empadas, pudins de ameixas, barris de ostras, castanhas quentes, maçãs coradas, laranjas sumarentes, pêras maduras, grandes bolo-rei e taças de ponche fervendo, que enchiam o ambiente com os seus deliciosos vapores. Cômicamente reclinado no divã, estava um Gigante bonacheirão.

— Entra — disse o Fantasma. — Entra e aprende a conhecer-me melhor, homem. Eu sou o Fantasma do Natal Presente!

E levou Scrooge, sempre submisso, nas asas do vento, para a casa de quatro comados de Bob Cratchit, o empregado de Scrooge. Lá estava a mulher de Cratchit, com roupa de festa mas pobre – um vestido duas vezes voltado mas todo debruado com fitas. Estava pondo a mesa, auxiliada por Belinda, a segunda das suas filhas, também cheia de fitas. O jovem Pedro, entretanto, metia um garfo na panela das batatas e com os bicos do seu descomunal colarinho (propriedade pessoal de Bob, dada a seu filho e herdeiro, em comemoração do dia) entrando-lhe na boca, estava contente por se ver tão alegremente vestido e ansiava por exibir a sua roupa nos Parques da cidade. Dois Cratchits mais pequenos, um rapaz e uma menina entraram de repente para dizer que, a porta do padeiro, haviam sentido o cheiro do ganso que estava assando por conta da família. Embalados por voluptuosos pensamentos de salsa e cebola, os pequenos Cratchit principiaram a dançar em volta da mesa. Foi então que entrou Bob, o pai, com um cachecol de um metro pelo menos, sem contar a franja, pendurado à frente. A sua roupa, toda remendada e escovada para a ocasião, esta puída. Nos ombros trazia o Tinzinho. Pobre Tinzinho! Usava uma pequena muleta e tinha as perninhas enfiadas num aparelho de ferro.

— Onde está a nossa Marta? — perguntou Bob Cratchit, olhando em redor.

— Não vem! — respondeu a Senhora Cratchit.

— Não vem? — exclamou Bob.

— Francamente, faltar no Dia de Natal…

A filha mais velha, Marta, que trabalhava fora mas viera passar o dia em casa, não queria vê-lo desapontado, nem mesmo por brincadeira. Assim, saiu detrás da porta do armário onde havia se escondido e correu para ele, que a recebeu nos braços. Entretanto, os dois jovens Cratchit levavam o Tinzinho à cozinha para que ele ouvisse o pudim chiando no tacho de cobre. Bob pôs uma bebida quente num jarro no qual derramou também “gin” e rodelas de limão, mexeu repetidas vezes e colocou sobre o fogão para conservar o calor. O jovem Pedro e os dois irrequietos Cratchits pequenos foram, depois, buscar o ganso, regressando com ele, logo a seguir, em solene procissão. O alvoroço que se estabeleceu foi tão grande que parecia ser o ganso a mais rara e preciosa das aves. A Srª. Cratchit fez o molho, Pedro esmigalhou as batatas com grande vigor, Belinda adoçou o molho de maçã, os dois jovens Cratchits foram buscar cadeiras para todos, sem se esquecerem das suas, e, guardando seus lugares, meteram as colheres na boca para não gritarem pelo ganso antes de chegar a sua vez. Por fim, apareceram os pratos e rezou-se uma prece. Seguiu-se um silêncio pesado, enquanto a Srª. Cratchit, olhando fixamente a faca de trinchar, se preparava para afundá-la no peito do ganso. Quando o fez e, o recheio longamente guardado jorrou, ergueu-se em volta da mesa um murmúrio de prazer. Nunca houvera um ganso como aquele! Macieza da carne, o sabor, o tamanho, e a insignificancia do preço foram os temas da admiração geral. Completado com molho de maçã e puré de batata, era um jantar suficiente para a familia inteira. Todos tinham comido até se fartarem e os Cratchits mais novos, muito especial estavam cheios até às orelhas de salsa e cebola. Mas Belina mudou os pratos e a Srª. Cratchit saiu da sala sozinha – demasiado nervosa para suportar testemunhas – a fim de ir buscar o pudim. Imagine se ele não ficaria bem cozido! Suponha que havia se desmanchado ao tirar da forma! Ou que alguém o tinha roubado, saltando por cima do muro do pátio enquanto estavam entretidos com o ganso – suposição que fez empalidecer os dois Cratchits mais novos. Olá mas que vapor! O pudim saiu bem da forma. Um cheiro de roupa lavada. Era da toalha. Um cheiro do restaurante e pastelaria, porta com porta, e uma lavanderia a seguir. Era o pudim! Meio minuto depois, a Srª. Cratchit entrou – afogueada mas com um sorriso de orgulho – com o pudim, brilhante, duro e belo, envolto nas chamas de dois decilitros de aguardante, e enfeitado com creme. Oh! que maravilhoso pudim! Bob Cratchit afirmou, com calma solenidade, que o considerava o maior êxito alcançado pelo Srª. Cratchit desde o seu casamento. Todos tinham qualquer coisa a dizer a respeito dele, mas ninguém disse, nem sequer pensou, que era um pudim muito pequeno para uma família tão numerosa. Afinal, o jantar terminou, tirou-se a mesa e alimentou-se o fogo. Então a família Cratchit reuniu-se em volta da lareira, ficando todos os cristais da casa ao alcance da mão de Bob: duas canecas e uma molheira sem asa. Esses recipientes continham, porém, o líquido quente do jarro tão bem como se fossem taças douradas. Bob serviu-se, com os olhos brilhando enquanto as castanhas estalavam ruidosamente. E fez o brinde:

— Feliz Natal para vocês todos, meus queridos. Que Deus vos abençoe!

Toda a família repetiu em coro as suas palavras.

— Que Deus o abençoe a todos em geral e a cada um em particular — afirmou o Tinzinho por ultimo.

— À saúde do Sr. Scrooge! — disse Bob erguendo novamente o seu copo — À saúde do fundador da festa!

— Agora essa de fundador da festa! — exclamou a Sra Cratchit. — Gostaria que estivesse aqui. Havia de ouvir umas coisas que não ia gostar.

— Minha querida — disse Bob — hoje é Dia de Natal.

— Bem se vê que é Dia de Natal — insistiu ela — para se beber à saúde de um homem tão odioso e sem sentimentos. Não podes negar que o é, Robert!

— Minha querida — foi a fraca resposta de Bob — é Dia de Natal…

E todos corresponderam ao brinde. Scrooge e o Espírito viram muitas outras coisas e percorreram um longo caminho. O sino grande bateu, por fim, doze badaladas. Scrooge procurou o Fantasma com os olhos e não o viu. Quando a última badalada cessou de vibrar, entrou um Fantasma solene, de manto e capuz, que, como uma névoa, avançava para si. Era o Fantasma do Natal Futuro. Esse último Espírito levou-o perto de um grupo de corretores da Bolsa que discutia sem pena a morte de Ebenezer Scrooger e mostrou-lhe, depois, um tumulo abandonado. Scrooge não podia suportar mais nada.

— Espírito — exclamou — já não sou o homem que fui. Graças a esta lição vou passar a ser um homem diferente. Respeitarei, doravante, o Natal e procurarei mantê-lo todo o ano. Viverei no Passado, no Presente e no Futuro. Os espíritos dos três competirão dentro de mim!

O espectro transformou-se numa coluna da cama. Sim, numa coluna da própria cama de Scrooge. Estava no seu quarto. Lá fora, principiava uma linda manhã.

— Não sei o que fazer — exclamou Scrooge, rindo e chorando ao mesmo tempo e contorcendo-se, como se fosse Laoconte para enfiar as calças. — Sinto-me leve como uma pluma, feliz como um anjo, alegre como um estudante, tonto como um bebado. Feliz Natal a todos!

Correu à janela, abriu-a de par em par, pois a cabeça de fora e gritou para um rapaz em traje de domingo que estava parado na rua:

— Que dia é hoje?

— Hoje — respondeu o rapaz — essa agora! Hoje é Dia de Natal!

— É Dia de Natal — disse para consigo Scrooge. — Ainda há tempo.

Mandou logo o rapaz correr ao lugar comprar o gordo peru que vira pendurado na vitrine, e enviou-o de trem à casa de Bob Cratchit, depois de o ter gratificado generosamente. Não quis que Bob soubesse quem lhe oferecia a ave. Vestiu, depois sua melhor rua e saiu para a rua. As pessoas começavam a passear nessa altura e Scrooge tinha uma expressão tão bondosa e humana que três ou quatro transeuntes lhe desejaram um Natal feliz. Esteve na igreja, caminhou pelas ruas e foi para a casa do sobrinho, declarando humildemente à porta:

— Venho jantar. Dá licença, Fred?

O sobrinho, um bom coração, recebeu-o de braços abertos. Se dava licença! Por pouco não lhe arrancava o braço com o aperto de mão. Cinco minutos depois sentia-se como se estivesse em casa. Maravilhosas festas, maravilhosos jogos, maravilhosa harmonia, maravilhosa felicidade! Na manhã seguinte, chegou cedo ao escritório. Queria ser o primeiro e apanhar Bob Cratchit entrando tarde. E assim aconteceu. Bob chegou atrasado dezoito minutos e meio. Antes de abrir a porta tirou o chapéu e o cachecol que trazia ao pescoço. E, sem perder um momento, sentou-se à mesa, manejando a pena como se quisesse recuperar o atraso.

— Que vem a ser isto de entrar a esta hora? — resmungou Scrooge na sua voz habitual.

— É só uma vez durante o ano, senhor — respondeu Bob.

— Não suportarei mais essas coisas. E por isso — disse Scrooge dando uma palmada nas costas de Bob — vou aumentar-lhe o ordenado.

Bob estremeceu.

— Feliz Natal, Bob — exclamou Scrooge. — Vou aumentar-lhe o ordenado e procurarei auxiliar a sua familia. Discutiremos os seus problemas, hoje à tarde, perante uma taça bem quente de ponche.

Scrooge cumpriu a sua palavra. Fêz tudo isso e muito mais. Foi um segundo pai para o Tinzinho, que não morreu. Tornou-se tão bom amigo, tão bom patrão e tão bom homem como aquela velha cidade jamais conhecera, ou qualquer outra velha cidade, vila ou aldeia do velho mundo. E dizia-se que ninguém melhor do que ele observava as tradições do Natal. Que o mesmo se possa dizer, com razão, de nós! Que Deus nos abençoe a todos, como dizia o Tinzinho.

202 Visualizações